"Não quero escrever sobre mim. Quero escrever sobre os outros, sobre o que está fora de mim. O que me adentra e fica,
ou aquilo que simplesmente passa. Como uma chuva que acabou de escorrer e deixou seus resíduos.
Não escrever sobre mim não significa que não quero me revelar.
Significa que estou cansada de um mundo que deveria ser grande, mas é tão pequeno. Que acha bonito só o que é bonito e sempre e só isso.
Cansei de um mundo que não aceita o diferente, o excluído - um mundo que não estende a mão ou não abre seus ouvidos.
E, hoje, esse mundo fui eu. Um mundo tão pequeno, um mundo que repugno. Eu não parei, não estendi minha mão, não escutei. E agora choro,
porque me comove e me dói na alma.
Por medo de parar, simplesmente passei por um homem que, sentado na calçada molhada pela chuva, completamente desesperado,
me pedia ajuda segurando a cabeça entre as mãos porque não aguentava o peso da caixa pensante sobre o seu pescoço.
O peso da cabeça aperta o pescoço e faz a gente sentir aquele nó que só se desfaz com um longo e sussurrante choro.
E passei. E ele passou, mas deixou um pouco de seu desespero em mim.
Escrever o não-eu é escrever sobre o de fora que passa por mim e fica, como os resíduos da chuva que acabou de escorrer, deixando folhas e galhos nos encontros das ruas.
Resíduos de amor desencontrado, de poesia desarrumada, de ajudas e orações pela metade.
Resíduos de outros que passaram por mim e deixaram galhos e folhas no encontro das ruas pequenas e sem saída que moram aqui em meu dentro."
Laura Cielavin...
Laura Cielavin...