"Na época eu era um sujeito perseguido pelas nostalgias. Sempre tinha sido, e não sabia como me livrar da saudade para viver tranquilamente.
Ainda não aprendi. E desconfio que nunca vou aprender. Mas pelo menos já sei uma coisa valiosa: é impossível me livrar das saudades porque é impossível se livrar da memória. Você não pode se livrar daquilo que amou.
Isso tudo vai estar sempre com a gente. Sempre vamos desejar recuperar o lado bom da vida e esquecer e destruir a memória do lado mau. Apagar as perversidades que cometemos, desfazer a lembrança das pessoas que nos magoaram, eliminar as tristezas e as épocas de infelicidade.
É totalmente humano, então, ser nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, por sorte nossa, a saudade possa se transformar, de uma coisa depressiva e triste, numa pequena faísca que nos impulsione para o novo, para nos entregar a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas será diferente. Isso é o que todos nós procuramos todo dia: não desperdicçar a vida na solidão, encontrar alguém, entregar-nos um pouco, evitar a rotina, desfrutar a nossa parte da festa."
Trilogia Suja de Havana...
Pedro Juan Gutiérrez...