Tiago Elídio...
sábado, 21 de agosto de 2010
sardinha na lata...
"que nem sardinha na lata"... assim dizia sua mãe em situações em que muitas pessoas ficavam espremidas em um local... lembrava-se disso, pois estava vivenciando uma experiência dessas... o ônibus no qual voltava do trabalho estava repleto de indivíduos... era um ambiente muito desconfortável, pois, além de estar lotado, fazia muito calor e o vento que entrava pelas janelas não circulava... era uma verdadeira agonia, uma sensação desanimadora... enquanto cruzava o túnel, via sua imagem no espelho, sufocado com as outras pessoas... pelo reflexo do vidro, parecia um aquário... lembrou-se então de uma outra expressão... "pecera"... era a palavra espanhola para esse pequeno espaço artificial habitado por peixes... e era assim que os mexicanos do DF chamavam os ônibus urbanos... fazia sentido... mas, guardada às devidas proporções e a falta de espaço para movimentação, estava com os demais peixes humanos nesse aquário urbano... como verdadeiras sardinhas numa lata...
domingo, 15 de agosto de 2010
"Toda esa luz está muerta -dijo Ingeborg-. Toda esa luz fue emitida hace miles y millones de años. Es el pasado, ¿lo entientes? Cuando la luz de esas estrellas fue emitida nosotros no existíamos, ni existía vida en la tierra, ni siquiera la tierra existía. Esa luz fue emitida hace mucho tiempo, ¿lo entientes?, es el pasado, estamos rodeados por el pasado, lo que ya no existe o sólo existe en el recuerdo o en las conjeturas ahora está allí, encima de nosotros, iluminando las montañas y la nieve y no podemos hacer nada para evitarlo."
Roberto Bolaño... 2666...
domingo, 1 de agosto de 2010
caralho! buceta! puta que pariu!...
"caralho, que cara gostoso!"... no segundo andar do prédio vizinho, um homem lhe chamava a atenção... sempre caminhava pela casa de sunga, quase desnudo... e tinha um corpo bem interessante, o que chamava ainda mais sua atenção... às vezes sua pequena peça de roupa era branca, às vezes preta, às vezes vermelha... sempre ressaltando seus nada pequenos músculos... e de vez em quando saía na sacada para fumar... sua atenção nem precisava mais ser chamada, já agia por instinto e se colocava na janela, apreciando a bela vista... também fumava um cigarro, para parecer mais discreto... mas provavelmente não o era... sua cabeça e seus olhos iam diretamente para aquela direção... o cara continuava fumando e era indiferente... parecia gostar de exibir o belo físico que possuía... os dias foram passando e o desejo por aquele corpo vizinho ia aumentando... passava cada vez mais tempo na janela, tentando observá-lo... já sabia até seus horários e, por isso, ia fumar basicamente no final da tarde e início da noite, quando o gostosão já tinha voltado do trabalho... ele não parecia ser gay, muito pelo contrário... parecia um daqueles machos marrentos... mas isso o excitava ainda mais... sua vontade era a de pular pela janela e cair em sua sacada... a distância não permitia, infelizmente... ou talvez, felizmente... provavelmente não conseguiria resistir à tentação... e, caso fosse mesmo um heterozinho, poderia ter uma atitude bem agressiva... e não era esse o tipo de contato físico que queria... mas, um belo dia, fumando um cigarro na janela, à espera... à espreita... viu o vizinho passando com um jeans e sem camisa... "puta que pariu, que delícia!"... mas, tinha uma acompanhante... xingou-a mentalmente com os mais variados insultos... estava com o homem que ele desejava... nesse momento, curiosamente, pensou em freud... segundo este, as mulheres têm algum complexo por não terem o órgão sexual masculino... existe uma certa inveja do pênis... mas o mundo é tão machista que não se pensou sobre a inveja do órgão sexual feminino... provavelmente também há o complexo advindo da falta de vagina no homem, pensava... acho que estou complexado, dizia a si mesmo... inveja da buceta alheia... "puta que pariu!"...
Tiago Elídio...
Tiago Elídio...
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Viajar?
Para viajar basta existir.
A vida é o que fazemos dela.
Fernando Pessoa...
Vou de dia para dia,
como de estação para estação,
no comboio do meu corpo, ou do meu destino,
debruçado sobre as ruas e as praças,
sobre os gestos e os rostos,
sempre iguais e sempre diferentes,
como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo?
Só a fraqueza extrema da imaginação justifica
que se tenha que deslocar para sentir.
"Qualquer estrada,
esta mesma estrada de Entepfuhl,
te levará até ao fim do mundo".
Mas o fim do mundo,
desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta,
é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.
Na realidade, o fim do mundo,
como o principio,
é o nosso conceito do mundo.
É em nós que as paisagens tem paisagem.
Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são;
se são, vejo-as como as outras.
Para que viajar?
Em Madrid, em Berlim, na Pérsia,
na China, nos Pólos ambos,
onde estaria eu senão em mim mesmo,
e no tipo e gênero das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela.
As viagens são os viajantes.
O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
Fernando Pessoa...
sexta-feira, 16 de julho de 2010
"(...) con él nunca se metían, entre otras razones porque era un buzo*, es decir porque no pertenecía a ese mundo, al que sólo iba como explorador o de visita."
*buzo = escafandrista: mergulhador que, munido de um escafandro, faz investigações ou trabalha no fundo do mar ou dos rios.
trecho de 2666, de Roberto Bolaño...
*buzo = escafandrista: mergulhador que, munido de um escafandro, faz investigações ou trabalha no fundo do mar ou dos rios.
escafandro: equipamento hermeticamente fechado, mas onde se faz penetrar ar por meio de uma bomba, e que os mergulhadores vestem para trabalharem debaixo de água.
terça-feira, 6 de julho de 2010
é noite... olho pela janela e avisto sem querer a lua... ela encontra-se minguante... naquele período que segue sua cheia, em que está repleta... embora tenha sofrido uma diminuição e vivencia uma quebra, ainda assim consigo ver surpreendentemente um sorriso em sua imagem... assim como ela, também me encontro nessa fase... sinto uma grande quebra dentro de mim, uma falta enorme de algumas partes... mas, apesar disso, ainda sinto esperança de me preencher novamente... por isso, lhe retribuo o belo sorriso...
Tiago Elídio...
segunda-feira, 5 de julho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
à deriva...
estava já há algum tempo à deriva nesse imenso mar... não sabia ao certo como havia chegado a essa situação... não lembrava o que havia acontecido com o barco onde estava... tampouco lembrava se havia outros tripulantes... sua memória não ajudava nesse momento... o único indício era o pedaço de madeira ao qual estava agarrado... por sorte, ainda contava com esse meio de sustentação, mas o mar estava agitado... era cada vez mais difícil continuar segurando... sentia-se já um pouco fatigado... e não sabia como sair desse estado... afinal, não dependia só dele... por mais que ele conseguisse nadar rumo a alguma direção, seu esforço podia ser em vão, pois a correnteza poderia levá-lo de volta ao ponto inicial... necessitava que algum resgate surgisse e o tirasse dali... uma boia e um colete salva-vidas já seriam suficientes para lhe dar mais segurança, pois afnial nunca se sabe o que pode acontecer quando se está assim à deriva... o que mais temia era a probabilidade de se deparar com alguma forte tempestade... poderia ser fatal... mas, de qualquer modo, ainda tinha esperanças... e, portanto, esperava...
Tiago Elídio...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
sábado, 12 de junho de 2010
sábias conversas...
Melina: ah, sei lá...
Tiago: é, tb não sei...
Melina: é, quem sabe... rs
Tiago: vai saber... rs
sábado, 5 de junho de 2010
"there is always hope"... assim dizia o pôster acinzentado que estava em seu novo quarto... junto com a frase, havia uma menininha estendendo a mão para um balão vermelho que estava próximo... era como se ele tivesse escapado da sua mão mas ainda havia a possibilidade de agarrá-lo novamente... ele estava nessa nova cidade havia pouco tempo... ainda se sentia perdido e em fase de adaptação... e ainda sentia muitas saudades do lugar de onde havia vindo... no entanto, conseguia ver balões coloridos nesse novo horizonte... mas era inevitável o medo de não conseguir agarrá-los... afinal, eles podiam rapidamente desaparecer, levados por um vento forte... ou então podiam ser agarrados antes por outras pessoas... era possível ainda que eles estourassem acidentalmente... ou fossem estourados propositalmente por pessoas inconvenientes... ou ele podia simplesmente ficar sem forças para ir ao encontro de qualquer balão... mas apesar de tudo, era muito pouco provável que não restasse ao menos um que ele pudesse pegar... pelo menos assim esperava... "sempre há esperança"...
Tiago Elídio...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
diálogos...
que você encontre alguém que possa rabiscar com um grafite coisas suaves dentro de ti... prazeres de uma presença cheia de amor... e assim comece a caminhar alegre por despertar arrepios e sussurros... e possa pensar, com grande satisfação: o amor é para dentro... vem de fora... entra pela pele... e fica tatuado no coração...
Tiago Elídio...
dedicado ao meu querido serginho roberto...
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