sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

nervoso...

pensamentos ecoam em minha mente... vão de um hemisfério a outro... cruzam a região cinzenta, passam pelo hipotálamo, mas não conseguem sair dessa cuca dura... vagam sem saber para onde ir, nesse emaranhado de nervos... percebem que estão perdidos... e gostariam de saber onde vão chegar... mas não sabem... estão à mercê de sinapses que podem ou não ocorrer... mas, de qualquer forma, possuem uma certeza... a de fazerem parte desse sistema... nervoso...
Tiago Elídio...

domingo, 16 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

o poder do travesseiro...

pegou o travesseiro que estava sobre a cama, levou-o ao peito e o abraçou bem forte... um daqueles abraços de urso bem aconchegantes e demorados... com os olhos fechados, pensou em todas as pessoas que gostaria muito de compartilhar carinho... deteve-se em uma em especial... ergueu o travesseiro a altura do rosto, encostando o ouvido no tecido leve e suave... buscava sentir um coração que batesse... sua mente o fez então sentir a pulsação... uma energia correu por todas as veias do seu corpo, propiciando-lhe uma sensação de bem-estar... foi levado a outra dimensão, em êxtase... respirou fundo... e lentamente abriu os olhos, sentindo-se repleto de carinho...
Tiago Elídio...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

sons...

tô fraco... tô fraco... tô fraco... gritava uma galinha d'angola que se encontrava perto dele... compartilhava da sensação da ave... sentado ali naquela rede, não tinha muita força para fazer nada... nem vontade, na verdade... queria só ficar ali, a observar os animais da chácara... os pássaros voavam acima da sua cabeça, fazendo pousos e decolagens em vários passaroportos... alguns cantavam, como o bem-te-vi... mas mal se viam... só ouviam-se seus gritos imperativos vindo do meio de algumas árvores... lá também estava a habitação do joão-de-barro... um lugar simples mas aconchegante... como a rede onde agora já se encontrava deitado... dali também podia escutar o canto das cigarras... havia chegado a época de acasalamento e elas estavam desesperadas, gerando um som ensurdecedor... não entendia como aquilo poderia funcionar como um flerte... mas assim era... e em meio a esse som perturbador, acabou fugindo da realidade e dormindo... em seu sonho, era uma dessas cigarras cantantes em busca de parceria...
Tiago Elídio...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

diálogos...

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: Quero é uma verdade inventada."
Clarice Lispector...

"E digo mais, Clarice... Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas em preto e branco. Eu não: Quero é uma vida colorida."
Tiago Elídio...

domingo, 2 de novembro de 2008

uma pedra no meio caminho...

caminhava tranquilo pela calçada rumo ao seu compromisso... passo a passo observava o dia que estava começando... de repente, um susto... viu algo estranho no meio do caminho... uma árvore completamente nua... havia sido totalmente abusada, violada, mutilada... seus membros todos jogados no chão... entre eles, estava um de seus companheiros do dia-a-dia, perdido, sem saber o que fazer... voava de um lado pro outro em busca de seu ninho que estava junto aos verdes destroços... pegava uns fios aqui, levava-os ali, apenas por instinto... estava desnorteado... como era possível isso acontecer?... seguiu pensando na triste imagem... ao voltar, já não havia mais nada... nem folhas, nem troncos, nem pássaro... todos os vestígios haviam sido removidos... restava apenas aquela árvore... imóvel e envergonhada pela violência sofrida...
Tiago Elídio...

sábado, 1 de novembro de 2008

eu vi gnomo...

olhava atentamente para a cara da professora... ela discorria sobre problemas gramaticais... mas ele não estava prestando atenção para esse fato, na verdade... apesar do olhar atento aos movimentos bocais daquela que estava na frente da sala, sua mente estava em outra dimensão... pensava na existência dos gnomos... como eram... onde viviam... quando apareciam... quem os via... que emoções traziam... enfim... pensava nessas questões que o levavam para fora daquela aula chata... será que isso já seria algum efeito dos gnomos?
Tiago Elídio...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

maré...

o sol estava bem quente... queimava fortemente seu rosto... mas ele não sentia... estava dormindo... insensível ao que acontecia ao seu redor... estava tão cansado, que a dor já não lhe fazia mais tanta diferença... o mar, bem próximo, estava bastante agitado... a maré começou a subir... subitamente, despertou sentindo a água tomar conta do seu corpo... as ondas estavam fortes... ele não sabia o que fazer... não havia mais como sair dali... começou a nadar tentando encontrar uma solução... mas não conseguia... viu-se nadando inutilmente contra a corrente... já não tinha mais força nem paciência de seguir lutando... então, calmamente, parou de se debater e se deixou afundar... e assim foi...
Tiago Elídio...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

montanha-russa...

seu coração começa a bater mais rápido... você está prestes a entrar nesse grande brinquedo e passar por uma aventura gigantesca... você abre a portinha, acomoda-se no assento e então, sem perceber, inicia a jornada... no começo você chora, sem entender muito bem o que está acontecendo... mas, do seu lado, há duas grandes companhias... elas seguram sua mão e ensinam como enfrentar esse desafio... e então o carrinho segue e você começa a se divertir... novas pessoas vão adentrando à medida que o caminho se desenrola... algumas, inclusive, fazem com que seu coração dispare ainda mais e você grite alto sem medo de ser feliz... mas às vezes há quedas, e você se sente inseguro, com medo, acaba passando mal, vomitando, querendo loucamente sair desse negócio... mas eis que você passa novamente por pontos altos, indo praticamente nas nuvens, como se tivesse asas... e assim você vai seguindo... vivendo as mais loucas emoções... e pessoas continuam entrando e saindo... às vezes algumas somente dão uma paradinha e voltam mais tarde... outras saem e não voltam mais... mas você continua lá, enfrentando essa grande montanha-russa, cheia de altos e baixos, seguindo o fluxo ao infinito...
Tiago Elídio...

dedicado a Daniel Zahori (umapitada.blogspot.com), pelo papo que inspirou esse texto...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

impotência...

uma pessoa morre... não necessariamente biologicamente... morre somente pra você... e não há nada que se possa fazer... a sensação é a mesma frente a outros difíceis fatos cotidianos... a impossibilidade de se fazer algo fazem lágrimas escorrerem face abaixo... e também morrerem ao cairem no chão... sendo enterradas ali... o luto é preciso... lutar é preciso... não há outra coisa que se possa fazer...
Tiago Elídio...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

replay...

não conseguia parar de ouvir aquela canção... sua melodia penetrava-o de maneira suave... sua letra entrava aos ouvidos como se fossem sussurros inebriantes... era uma música que o fazia fechar os olhos e sentir-se leve... sentir-se aliviado... sentir-se apenas... era uma grande sinestesia de sentidos que percorria todo seu corpo... era como se fossem mãos lhe fazendo carinho... levando-o a uma outra realidade... um som que o fazia levitar a uma esfera distinta... como se estivesse flutuando no ar... trazendo-lhe conforto... não conseguia parar de ouvir aquela canção...
Tiago Elídio...

aquela canção: Anytime... Jane Siberry...

dedicado à Lyne...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

acontecimentos...

o menino pergunta ao pai se ele acredita no acaso, se acredita em destino... o pai responde que se a gente pensa em alguém e esse alguém liga a gente acha que é obra do destino, que está previsto nas estrelas, é sobrenatural... mas quando a gente não pensa nessa pessoa e ela liga ou quando pensamos e ela não liga, passa despercebido... é estranho... difícil saber no que pensar... seria tão bom poder acreditar que certas coisas acontecem porque têm que acontecer... isso é confortante, dá esperança... mas é difícil acreditar... fica-se com um pé atrás sempre... difícil saber no que acreditar com todas essas incredulidades contemporâneas... mas algumas coisas impressionantes realmente acontecem... será que existe um fluxo de energia entre as pessoas que fazem essas "casualidades" acontecerem? é bom pensar que sim... e aproveitar essa sensação boa que vem junto com esses acontecimentos... sem tentar pensar muito se isso é coincidência ou destino... apenas aproveitar as sensações...
Tiago Elídio...

dedicado à Lyne, que muito contribuiu para esse texto! =)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

sábio caio f. abreu...

Extremos da Paixão

Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."


Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.

Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.

No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.

Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.

Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.

Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

balanço...

nheque, nheque... nheque, nheque... e assim no seu ir e vir o balanço dava vida à sua existência meio parada... dependia sempre da ajuda de alguém para isso... no mais, ficava ali tranquilo e sem movimento... chegando até a enferrujar-se... nheque, nheque... nheque, nheque... a jovem que estava sentada sobre ele mal percebia a diferença que fazia... estava ali imersa em seus pensamentos, num ir e vir constante, sem saber onde parar... apenas dava alguns impulsos às vezes para seguir movimentando-se, mas eles foram ficando cada vez mais fracos... até que o barulho se desfez e ela se foi... deixando o balanço à espera de uma nova companhia que mexesse com ele...
Tiago Elídio...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

pílulas digestivas...

inesperadamente algumas coisas acontecem... às vezes isso é bom... às vezes, não... às vezes, tanto faz... pelo simples fato de não terem sido esperadas, talvez possam causar um estranhamento, necessitarem ser processadas... digeridas... precisam, assim, se converterem em compostos absorvíveis pelo organismo... nem sempre é um processo fácil... pode ser algo rápido, pode demorar, ou simplesmente pode não acontecer... depende de como o corpo do indivíduo reage frente à esse objeto estranho... mas muitas vezes tudo isso pode ser facilitado por algumas pílulas que ajudam na digestão... simples assim, basta ingeri-las... seria ótimo poder sair por aí distribuindo esses produtos e ajudando nas transformações alheias... mas não há nada que se possa fazer... esse é um processo pessoal e intranferível...
Tiago Elídio...

dedicado à Aline Fonte... fonte de inspiração... =)