segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"pues, creo que hay horas con magia - las dos es una hora así... no estás durmiendo pero no despertado tampoco... estos mundos entre la luz y la sombra tienen su propia lógica..."
Julian Tangermann...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Os curiosos acontecimentos que são o objeto desta crónica ocorreram em 194., em Oran. Segundo a opinião geral, estavam deslocados, já que saíam um pouco do comum. À primeira vista, Oran é, na verdade, uma cidade comum e não passa de uma prefeitura francesa na costa argelina.

A própria cidade, vamos admiti-lo, é feia. com seu aspecto tranquilo, é preciso algum tempo para se perceber o que a torna diferente de tantas outras cidades comerciais em todas as latitudes. Como imaginar, por exemplo, uma cidade sem pombos, sem árvores e sem jardins, onde não se encontra o rumor de asas, nem o sussurro de folhas. Em resumo: um lugar neutro. Apenas no céu se lê a mudança das estações. A primavera só se anuncia pela qualidade do ar ou pelas cestas de flores que os pequenos vendedores trazem dos subúrbios: é uma primavera que se vende nos mercados. Durante o verão, o sol incendeia as casas muito secas e cobre as paredes de uma poeira cinzenta; então, só é possível viver à sombra das persianas fechadas. No outono, pelo contrário, é um dilúvio de lama. Os dias bonitos só chegam no inverno.


Uma forma cómoda de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre. Na nossa pequena cidade, talvez por efeito do clima, tudo se faz ao mesmo tempo, com o mesmo ar frenético e distante. Quer dizer que as pessoas se entediam e se dedicam a criar hábitos. Nossos concidadãos trabalham muito, mas apenas para enriquecer. Interessam-se principalmente pelo comércio e ocupam-se, em primeiro lugar, conforme sua própria expressão, em fazer negócios. Naturalmente, apreciam prazeres simples, gostam das mulheres, de cinema e de banhos de mar. Muito sensatamente, porém, reservam os prazeres para os domingos e os sábados à noite, procurando, nos outros dias da semana, ganhar muito dinheiro. À tarde, quando saem dos escritórios, reúnem-se a uma hora fixa nos cafés, passeiam na mesma avenida ou instalam-se nas suas varandas. Os desejos dos mais velhos não vão além das associações de 'boulomanes', os banquetes dos amigáveis e os ambientes em que se aposta alto no jogo de cartas.


Dirão sem dúvida que nada disso é característico de nossa cidade e que, em suma, todos os nossos contemporâneos são assim. [...]"

Trecho de A Peste... Alberto Camus...*

*version originale en français au-dessus...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

o milagre das folhas...*

"Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que são de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas mãos das empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo, capacidade de projetar no campo alucinatório as imagens inconscientes.

Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.

Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzí-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.

Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza."
Clarice Lispector...

*versión en español abajo en los comentarios...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011


Aprendeu que em situações de tensão os humanos estamirão

"saiu sem saber o que tinha na bolsa. Maria, a doida da rua, não tolerava desaforos dentro de casa. maquiou-se com o talo da erva doce e passou um pouco de colorau nas maças do rosto.
feito jiboia que vai pegar gato na esquina. feito catador de batata que joga uma dose de pinga goela abaixo antes do café. só pra usufruir do vapor. pra beber suco de couve e chocolate. beber o café do escritório e engolir raiva. o frescor da ignorância. dormia nua pra ir pescar sardinha no riacho. trazer sabedoria. Pela manhã, escutou dos meninos que não agüentavam mais. dormir em beliches e dividir o quarto com o papagaio. aquilo de um perto do outro. feito jogar caixeta. empilhadeiras de cimento e carvão. Vestiu um calção, cobriu com o vestido e subiu o morro. Maria foi à feira. ter contato com o verdume a deixava calma. só pra correr pelada da porta do banheiro até sua barraca. apalpar tomates com o dedão adormecia tua penugem. conhecia o gosto da folha só de tocar tuas raízes. via nutrientes pelo pé do alface. pelo chinelo dos homens. dormir só para ela significa sonhar com ladainhas e decidir, dia a dia, se usaria peruca ou se trançaria o cabelo. Sentia-se presa. pensava em saltar de asa-delta. só pra comer os pombos com mais gosto. comer com molho. shampoo de camomila. salgava com baba de jaca verde. roubava babosa da vizinha. Naquele dia, o rabanete nas mãos. pensou em levar leite com manga batida pros filhos. iogurte dos deuses. só pra ver o ódio escorrer pela boca. Salgar os olhos. Mas Maria era santa. Sua única crueldade é colecionar borboletas. na gaveta amontoa patas perdidas. Escutou que o pó das asas era arma antiga das mulheres que dão duro na vida. enxergava alegria em cada estrela no céu. vivia repleta de ver a lua. e Maria vendia senhas na fila do pastel. Chegada sua vez, vendia seu lugar e voltava. Foi acusada de produzir vícios. ganhou dois reais por uma cantada. Resolveu comprar chicória e bater com cenoura. pra sonhar feito banho de cachoeira. feito o lado da escotilha que brilha tranquilo, apesar do corpo estendido. Maria, a louca da rua, foi condenada por suicídio. aprendeu desde cedo que o fundo do poço é fundo por ser barato e líquido."
Otavio Ranzani...


o dia da semana de que mais gostava...

"sábado era o dia da semana de que mais gostava... era o dia em que ia para a feira comprar sua alface fresquinha... na sexta-feira demorava a dormir, pensando no grande encontro que estava por vir... e, claro, dormia mal, ansiosa para que a manhã do dia seguinte chegasse logo... entre um cochilo e outro, uma imagem verde e outra passavam-lhe pela sua cabeça... o relógio despertador tocava às seis e meia da manhã... mas ela já estava com os olhos abertos momentos antes, esperando apenas para apertar o botão... logo em seguida saía finalmente da cama... fazia seu café, que tomava com leite, acompanhado de algumas bolachas... depois se dirigia ao banho... apesar da ansiedade, era um banho demorado, afinal ela queria estar limpinha, cheirosa e bem apresentável... e gostava tanto da alface que colocava aquele seu vestido verde de que mais gostava... era uma forma de homenageá-la... quando finalmente terminava sua arrumação, pegava sua sacola e saía de casa... para sua felicidade, morava muito perto da rua onde era
realizada a feira... assim, caminhava apenas algumas quadras e lá estava ela, adentrando aquele ambiente de que tanto gostava... passava cumprimentando a todos os feirantes, com um sorriso meio envergonhado... mas não se atrevia a olhar qualquer outra mercadoria... seria como se estivesse traindo sua querida verdura... a única exceção era com os tomates, pois eram o seu pequeno agrado a ela... portanto, logo após comprá-los, dirigia-se diretamente à sua barraca favorita... como de costume, o feirante a esperava... cumprimentava-lhe com um belo sorriso e um carinhoso bom dia... ela lhe dizia o mesmo, embora não conseguisse se ater muito a ele.... seus olhos já estavam pousados nas alfaces verdes e frescas à sua frente... apreensiva, não tardava em tocá-las... ao fazer isso, sentia arrepios... elas ainda estavam molhadinhas... sentia a água escorrer por sua mão... sem pensar muito, como num ato reflexo, agarrava alguma por trás e levava diretamente ao rosto, para sentir o seu cheiro e frescor mais de perto... depois, colocava-a delicadamente de volta em seu devido lugar e repetia a operação uma a uma... e assim sentia-se como se estivesse em seu jardim, cuidando das suas mais belas flores verdes... o feirante já estava acostumado com a situação e a deixava tranquila com suas alfaces... não queria interromper esse momento tão sublime... ela sentia de fato uma sensação muito boa, como se estivesse nas nuvens... em nuvens verdes, leves e cheirosas... até que finalmente voltava ao plano terreno e decidia de fato quais seriam as escolhidas... nesse sábado, haviam sido duas as sortudas... e encostadas em seu peito, que ainda batia acelerado, foram suas acompanhantes no caminho de volta para casa... e também seriam o acompanhamento do seu almoço... do dia da semana de que mais gostava..."
Tiago Elídio...

Foto: Tiago Elídio... Feira da Rua dos Artistas... Rio de Janeiro...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

diálogos...

Melina: estamos num nível acima do cerol que puxa a vida pra baixo...
Tiago: eu sou a pipa que se desprende da rabiola e sai voando sem rumo...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Um Passeio Repentino *

"Quando à noite parece ter-se tomado a decisão definitiva de permanecer em casa, vestiu-se o roupão, depois do jantar ficou-se sentado à mesa iluminada, às voltas com aquele trabalho ou jogo ao término do qual habitualmente se vai dormir, quando lá fora há um tempo inamistoso que torna natural permanecer em casa, quando já se passou tanto tempo quieto à mesa que ir embora teria de provocar espanto geral, quando até as escadas já estão escuras e a porta do prédio fechada, e quando apesar disso tudo, num mal-estar repentino, fica-se em pé, troca-se o roupão, surge-se imediatamente vestido para ir à rua, se esclarece que é preciso sair, faz-se isso depois de breve despedida, acreditando-se ter deixado maior ou menor irritação conforme a rapidez com que se bate a porta do apartamento, quando se está de novo na rua com membros que respondem com uma mobilidade especial a essa liberdade inesperada que lhes foi concedida, quando se sente, através dessa decisão, concentrada em si mesmo toda a capacidade de decidir, quando se reconhece com um senso maior que o comum que se tem mais energia do que necessidade de produzir e suportar a mais rápida das mudanças, e quando assim se vai às pressas pelas longas ruas - então por essa noite está-se totalmente desligado da família, que desvia seu rumo para o inessencial enquanto, firme de alto a baixo, os contornos com as linhas carregadas, dando tapas na parte traseira das coxas, ascende-se à sua verdadeira estatura.

Tudo fica mais reforçado quando, a essa hora tardia da noite, se procura um amigo para ver como ele vai."

Franz Kafka... tradução de Modesto Carone...

* auf Deutsch in den Kommentaren unten...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pescadores e pecadores.

"E pensaram naquele estranho homem que passara há pouco por ali pedindo para que fossem com ele. E riram folgadamente. O tal homem, curioso homem, disse que os faria pescadores de homens.

O riso se pegou em seus lábios porque não entenderam como poderiam pescar algo que não fosse peixe. Também não entendiam como poderiam, sem rede, sem vara, pescar não para a morte, mas para a vida. E riram um riso gostoso."

Laura Cielavin...


filho de peixe...

"desde criança, sempre acompanhava seu pai à feira... à princípio, ia somente nos finais de semana e durante as férias escolares... e ficava por ali correndo para lá e para cá com os outros meninos e meninas enquanto seu pai vendia seus peixes... quando este não estava gritando para chamar sua atenção, dirigia seus gritos às mulheres bonitas que por ali passavam... "mulher filé não paga o filé..." algumas, encabuladas, olhavam para baixo rindo... outras caíam na lábia do feirante e iam dar uma olhada no seu filé... à medida que o tempo foi passando, o garoto começou a ir com mais frequencia e a ajudar seu pai nas vendas... depois de anos ouvindo as técnicas de marketing do seu pai com as freguesas, começou a fazer uso delas também... sem se dar conta, havia se transformado em um feirante, da mesma forma como havia acontecido com seu pai, que também havia começado ajudando seu progenitor naquela mesma peixaria volante... não havia muita opção de mudança, na verdade... era sua única forma de sustento, e era um trabalho árduo... a cada dia, depois de madrugarem, montavam e desmontavam a barraca em diferentes pontos da cidade... e assim não sobrava muito tempo para os estudos... mas, ao contrário do seu pai, havia terminado o ensino fundamental e o ensino médio... mas, para ele, já era mais do que o suficiente... afinal, não necessitava de mais do que isso para estar ali na feira, seguindo os passos do seu verdadeiro mestre... "olha o filé!! mulher bonita não paga... mas também não leva..." e assim ia jogando sua própria rede, fisgando clientes e vendendo seus próprios peixes..."
Tiago Elídio...

Foto: Tiago Elídio / Feira da Rua dos Artistas, Rio de Janeiro...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"elas subiam em direção à basílica de notre-dame... não estavam indo rezar, afinal não entrariam nesse templo sagrado do cristianismo... eram muçulmanas... seu deus era Alá e seu profeta Maomé... como tradicionais fiéis islâmicas, iam vestidas com a burca... era o último dia que lhes era permitido usar tal vestimenta em público em solo francês... e era justamente por isso que caminhavam rumo à igreja, pois era lá ao seu redor que estava o ponto mais alto da cidade... era sua última possibilidade de dar um passeio e contemplar aquela bela paisagem vestidas daquela forma... no dia seguinte, já não poderiam mais fazer isso... caso contrário, seriam multadas pelo governo... mas elas se recusavam a abandonar essa roupa... se assim o fizessem, iriam se sentir completamente envergonhadas e indignas por causa desse desnudamento... restava-lhes, portanto, ficar dentro de suas casas... como prisioneiras de si mesmas... mas já estavam acostumadas a isso, de certa forma... desde que nasceram, não tinham nem voz nem rosto... essa submissão já estava colada em seus corpos... não era possível mudar isso de um dia para o outro, da água para o vinho... nem como quem troca de roupa... afinal, elas não mudavam nunca o tipo de roupa... talvez suas filhas e netas, por nascerem em um país com uma cultura distinta, passassem a adotar outros hábitos e, assim, ter mais voz, mais liberdade... seria uma mudança geracional... para elas, isso já não era mais possível... as leis do governo francês não se sobreporiam às leis do Alcorão... por isso, aproveitavam esse belo dia de sol para caminhar e apreciar a linda vista da cidade... pela última vez..." *
Tiago Elídio...


"Vendo vocês duas aí, olhando a cidade que não é sua nem de seus filhos, mesmo que eles tenham nascido aqui. Esse véu que cobre vocês, vítimas inocentes, é que separa a pertença. A negação de viver onde se está e a reciprocidade da cidade. Ela nega a vocês o seu melhor pedaço. Viver fora desse mundo em que vocês entraram e procriar nesse espaço é seu erro e sua força de combate. Seus filhos odeiam e são rejeitados. Eles são uma parte ativa desse exército de pseudo-franceses. Infelizmente também vivo nessa negação. Nego que não vejo mal algum em vocês. Sou silencioso, como um gato, e termino em um silvo, desapercebido. Agora que eu tenho vocês na minha mira posso começar o meu trabalho. Inshalá."
Fernanda Vilar...


Foto: Tiago Elídio / Lyon, França...

*versión en español abajo en los comentarios...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

chuva que acabou de escorrer

"Não quero escrever sobre mim. Quero escrever sobre os outros, sobre o que está fora de mim. O que me adentra e fica,
ou aquilo que simplesmente passa. Como uma chuva que acabou de escorrer e deixou seus resíduos.

Não escrever sobre mim não significa que não quero me revelar.
Significa que estou cansada de um mundo que deveria ser grande, mas é tão pequeno. Que acha bonito só o que é bonito e sempre e só isso.
Cansei de um mundo que não aceita o diferente, o excluído - um mundo que não estende a mão ou não abre seus ouvidos.
E, hoje, esse mundo fui eu. Um mundo tão pequeno, um mundo que repugno. Eu não parei, não estendi minha mão, não escutei. E agora choro,
porque me comove e me dói na alma.
Por medo de parar, simplesmente passei por um homem que, sentado na calçada molhada pela chuva, completamente desesperado,
me pedia ajuda segurando a cabeça entre as mãos porque não aguentava o peso da caixa pensante sobre o seu pescoço.
O peso da cabeça aperta o pescoço e faz a gente sentir aquele nó que só se desfaz com um longo e sussurrante choro.
E passei. E ele passou, mas deixou um pouco de seu desespero em mim.

Escrever o não-eu é escrever sobre o de fora que passa por mim e fica, como os resíduos da chuva que acabou de escorrer, deixando folhas e galhos nos encontros das ruas.
Resíduos de amor desencontrado, de poesia desarrumada, de ajudas e orações pela metade.
Resíduos de outros que passaram por mim e deixaram galhos e folhas no encontro das ruas pequenas e sem saída que moram aqui em meu dentro."

Laura Cielavin...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

o empinador da pipa vermelha...


era domingo... fazia calor... e eu estava na praia com minha pipa vermelha... não estava ventando muito e isso complicava um pouco minha diversão... por mais que eu estivesse pelejando muito para conseguir empiná-la, ela não durava muito tempo no ar... não conseguia pairar naquele céu azul quente e abafado... logo vinha abaixo... mas eu estava obstinado a fazê-la voar... afinal era meu aniversário de sete anos... era um desafio que eu mesmo me dava... eu tinha ganhado essa pipa de presente do meu pai e queria mostrar a ele minhas habilidades como empinador... não queria decepcioná-lo de modo algum... ele estava observando de longe, enquanto tomava uma cerveja e enviava palavras encorajadoras... e eu, depois de muita luta, consegui finalmente erguê-la... não estava muito alta, mas era o suficiente para conseguir um sorriso do rosto do meu pai e me deixar orgulhoso e feliz... mas, de repente, um estrondo... minha pipa havia sido atingida... logo em seguida, outro estrondo... dessa vez, era meu pai que havia sido atingido... eram balas perdidas de uma perseguição policial na orla... eu, debaixo daquele sol escaldante, fiquei zonzo e vi ambos irem ao chão, deixando manchas vermelhas na areia... logo em seguida, quem veio abaixo fui eu... não lembro exatamente o que ocorreu depois... mas o que aconteceu antes eu jamais vou esquecer... esse foi o meu inesquecível presente de aniversário...
Tiago Elídio...

inspirado em histórias reais! =/

Foto: Tiago Elídio...

domingo, 12 de dezembro de 2010

eu me sinto quebrado... na verdade, sinto como se eu tivesse sido quebrado há algum tempo... mas fui me reconstruindo... eu me sinto exatamente como um vaso, que se quebrou em várias partes, mas conseguiu se recompor... no entanto, ainda existem as rachaduras decorrentes da quebra... e elas nunca conseguirão desaparecer e tudo voltar à maneira como era originalmente... eu me sinto assim... eu me sinto rachado...
Tiago Elídio...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

simples assim...

"Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco."
Caio Fernando Abreu..

feliz aniversário para mim! ;)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Sou um rapaz da cidade. Nas cidades grandes fizeram as coisas de tal jeito que você pode ir a um parque e estar num campo miniatura, mas no campo você não tem pedaços de cidade grande, então eu fico com muita saudade."
Andy Warhol...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

qual é o caminho?

no banco traseiro do carro, dois caras se pegavam... no banco da frente, o taxista dirigia... embora sua cabeça estivesse virada para a frente, seus olhos olhavam a todo momento pelo espelho retrovisor... projetava-se nos dois homens que trocavam beijos intensos... já estava, inclusive, com o pau duro... de repente, uma freiada brusca... não havia reparado que o sinal havia ficado vermelho... os rapazes, no banco de trás, olharam assustados e um deles disse: "cuidado, motorista!"... "me desculpa... mas acabei me distraindo com vocês...", disse o taxista... "pô, foi mal! se a gente tiver atrapalhando, passando dos limites, dá um toque!"... "não, não... tranquilo... é que é... assim... um pouco diferente!"... e aproveitando a deixa, perguntou curioso: "e como é... assim... beijar outro homem?"... "normal!", disse um deles... "é muito bom! acho que você devia experimentar, hein?", brincou o outro, olhando para o primeiro e trocando um sorriso... "eu?!"... "isso!! qual o problema?... você, com esses músculos todos, ia fazer sucesso, hein?", disse o primeiro, entrando na onda... "e ainda tem o lance de ser um fetiche... pegar o taxista...", acrescentou o outro... "que é isso?... eu sou casado! pai de família!"... "qual o problema? você não vai ser o primeiro... pode ter certeza..."... "e aposto que vai gostar, hein?"... "acho que você devia aproveitar que a gente tá indo pro motel..."... o taxista, depois de um momento de silêncio e de trocar olhares com os jovens, perguntou: "qual é o caminho que devo seguir?"...
Tiago Elídio...